Dia da Consciência Negra!

15-11-2012 21:32

                       

 

“Me cansei de lero-lero! Dá licença, mas eu vou sair do sério...”(Rita Lee). Mais uma vez estamos próximos do Dia da Consciência Negra e logo veremos aquelas velhas figuras alardeando aos quatro cantos conquistas pouco ou nada sentidas, a necessidade de nos assumirmos enquanto negros e as cotas que garantem o acesso à faculdade! Claro que algumas ações afirmativas foram e estão sendo implantadas, porém, como já foi dito em outra oportunidade não garantem a inserção do negro na sociedade como um todo e talvez, seja tão discriminatória quanto aquelas que se propõem a combater! As cotas são afirmativas enquanto reparatórias de injustiças seculares, porém, o que faremos com todos estes negros depois de formados? Que tal garantirmos uma cota de estágio obrigatório em empresas de grande porte? Estabelecer cotas nas agências bancárias, concursos públicos e em áreas administrativas? Talvez, alguns tenham se assustado ou mesmo achando exageradas estas ideias. Mas, que adianta ter o acesso à faculdade garantido, se depois de formado nos deparar com seleções ou selecionadores racistas? Quem disse que um diploma resolverá todas as intolerâncias raciais?  Imprescindível será criar políticas trabalhistas que absorvam estas pessoas amparadas pelo sistema de cotas, ávidas por oportunidades no mercado de trabalho!

Provavelmente no próximo dia dezenove à noite, veremos nos telejornais manchetes e mais manchetes sobre este dia em que as entidades aparecem conclamando seus feitos, mostrando penteados próprios para negros e projetos que pouco ajudam e minimizam os problemas vividos não somente por nós negros, mas, por todos aqueles que não tem uma condição socioeconômica favorecida. É no mínimo, inocência acreditarmos que penteados, maquiagens, roupas e todos os artefatos e utensílios atirados sobre nós, foram e são criados apenas pela valorização, conscientização de todos pela igualdade racial! Por trás de tudo isto, estão as indústrias e a busca pelo lucro cada vez maior, uma vez que a grande parte da população é negra! Evidentemente isto tem seu lado positivo, pois, a autoestima ajuda na identidade social do indivíduo além de colocar-nos no mercado consumidor. Necessário se faz, atitudes que se baseiem na igualdade social, na recuperação e ocupação de nossa juventude como as que são feitas nos Pronatec’s e Projovens, só para citar alguns que já funcionam aqui em Salvador. Mesmo porque, a reparação social inevitavelmente encontraria a racial, já que, maior parte da população negra é de baixa renda e com pouco acesso às oportunidades. A intenção deste texto não é execrar o Dia da Consciência Negra e sim fazer-nos refletir sobre qual deveria ser o seu foco. Conscientizar as pessoas que simplesmente vem este dia como um dia festivo, que as ações atuais a médio ou longo prazo se tornarão insuficientes, que se declarar negro, “pardo”, índio..., não nos faz melhores ou piores. Devemos sim, buscar nosso espaço não só nas salas de aulas mais também no centro das decisões das grandes empresas e de nossa política. 

Gérson Prado